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Demolição provoca choro e revolta


Derrubada em Vicente Píres

Após três tentativas de demolição em menos de seis meses, imóveis erguidos em um condomínio irregular de Vicente Pires começaram a ser derrubados pela Agência de Fiscalização (Agefis) e pela Subsecretaria da Ordem Pública e Social (Seops), na manhã de ontem. A operação, que será finalizada nos próximos dias, provocou protesto por parte dos moradores do Lote 200 da Rua 8, conhecido como Chácara da Prosperidade. Segundo os dois órgãos, as casas, entre elas mansões, não podem ser erguidas no local, pois o terreno pertence à Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap) e tem destinação específica para a construção de espaços públicos, como escola ou delegacia.

A chácara foi dividida em 50 lotes, mas apenas metade havia sido vendida. Dos 25 imóveis construídos ou em obras, sete estavam amparados por decisão judicial para impedir a derrubada. Cada fração custa entre R$ 250 mil e R$ 300 mil e, segundo os moradores, os lotes começaram a ser comercializados há cerca de cinco anos. A Agefis, no entanto, alega que a ocupação existe desde janeiro. Segundo a presidente da agência, Bruna Pinheiro, haverá aumento nas vistorias. “Vamos nos concentrar nas fiscalizações até conseguir derrubar tudo o que está aqui de forma irregular”, afirmou.

Vizinhos e parentes dos moradores da chácara afirmaram haver um “cartel” na região. Segundo eles, algumas “pessoas do governo” fizeram ameaças aos moradores do local, pedindo R$ 16 mil de cada um, a fim de evitar um possível despejo. “Como eles se recusaram a pagar, aconteceu isso”, reclamou uma mulher, que preferiu não se identificar. A Agefis informou ter conhecimento da situação e disse repudiar qualquer ato semelhante à coação.
Batalhão de Choque presente
 Mesmo ciente da falta de documentação, a empresária Adriana Videres, 31 anos, comprou um lote na Chácara da Prosperidade. Os investimentos na obra ultrapassaram os R$ 500 mil. “O meu sonho é ter uma casa própria. Tinha esperanças na regularização. Agora, se demolirem, vou ter de trabalhar tudo de novo”, reclamou. O advogado dela, Wendel Rangel, lembrou a existência de “contratos de compra e venda”, e disse que “todos os moradores compraram os lotes do proprietário inicial”. Ele conseguiu uma liminar, impedindo a desapropriação do imóvel.

Entretanto, 18 famílias não tiveram a mesma argumentação. Nem havia amanhecido quando os tratores e as carretas de mudança chegaram, prontos para derrubar as casas. Sabendo tratar-se da desapropriação, moradores queimaram pneus e entulho na porta do lote, assim como em outras tentativas de demolição. Desta vez, não funcionou. Os bombeiros apagaram o fogo. Depois disso, servidores da Agefis e da Seops entraram no terreno. Pediram que as pessoas deixassem as casas, levando o que fosse necessário para uso pessoal. O mobiliário foi colocado em veículos fretados, estacionados no local.

Balanço
O clima também ficou tenso. Vizinhos começaram a gritar e alguns se trancaram dentro das residências, na tentativa de impedir a derrubada. Desesperado, um homem subiu no telhado como forma de protesto (leia Personagem da notícia). Alguns colocaram os carros no meio da rua, tentando impedir a passagem dos tratores. Agentes do Departamento de Trânsito (Detran) foram acionados e retiraram os veículos. De acordo com o major Antônio Viegas, da Seops, a ordem era colocar abaixo. “A operação é uma tentativa de regularizar essa área”, informou. A Polícia Militar acompanhou a ação, também com homens do Batalhão de Choque.

Em 20 de julho, a desapropriação foi cancelada por causa da resistência dos moradores. A Agefis e a Seops não conseguiram nem entrar no terreno, bloqueado pelos proprietários dos lotes com uma barricada. Mais de 100 policiais militares deram apoio à ação. “Não há motivo para tentarem fazer isso aqui. Vicente Pires foi feita em locais semelhantes. Se derrubarem as casas dessas pessoas, terão de acabar com a cidade”, avaliou o presidente da associação dos moradores, Gilberto Camargos.

A Agefis informou que, na Chácara da Prosperidade, existem 26 casas, mais barracos de madeira e bases de construção. A ação contou com o apoio do Detran, do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), da Companhia Energética de Brasília CEB, da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), da Secretaria de Segurança Pública, da Terracap, da Polícia Militar e da Polícia Civil. No total, foram derrubadas sete edificações de alvenaria, dois barracos de madeira e duas bases. Segundo o órgão, mais 12 residências serão derrubadas no local nos próximos dias.

No início da noite de ontem, cerca de 60 pessoas, segundo a PM, bloquearam o viaduto de Vicente Pires, na Estrada Parque Taguatinga (EPTG), sentido Taguatinga. A manifestação contra a derrubada causou engarrafamento. O fluxo foi interrompido desde o Setor Sudoeste e chegou ao Viaduto Israel Pinheiro, na entrada de Águas Claras. Por volta das 19h30, o trânsito interrompido obrigou a PM a liberar o tráfego pela contramão. Após quase duas horas, os manifestantes se dispersaram, mas o trânsito continuou intenso pelo menos até as 20h30.
Oração e choro

O servidor público Pedro Torres, 30 anos, protagonizou uma cena inusitada durante a operação. Ao perceber que poderia perder tudo, ele escalou o telhado de casa e ficou de pé, como forma de protesto, em local de difícil acesso. Foi uma tentativa de impedir que os policiais o tirassem de lá e que a residência fosse demolida. Os vizinhos deram apoio, gritaram para que ele resistisse. Ele se emocionou. Pensou, negociou e, após duas horas de conversa, cedeu.

Pedro desceu, com a condição de que imóvel dele não acabasse no chão, pelo menos na ação de ontem. Hoje, no entanto, se ele não conseguir uma liminar, a residência será demolida.“As minhas orações foram fortes. Agora, eu preciso ver se a Justiça vai me ajudar a ficar com a casa”, disse.

O funcionário público se mudou para a Chácara da Prosperidade há 15 dias — garante ter comprado o lote há cerca de um ano. Ele e a mulher vivem em um imóvel em obras. Tudo o que eles reuniram durante o período entre a aquisição do terreno e o início da construção foi empregado em material.

Mesmo sem os móveis, o casal passou a noite na casa de Vicente Pires. Se não conseguir evitar a desapropriação, vão morar na casa da sogra de Pedro, em Planaltina. “Passei tanto tempo estudando para um concurso. Depois, me privando das coisas para juntar dinheiro… Agora, será que vou recomeçar?”, questionou.

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