Nomes brasilienses
Quem nunca passou o olho em uma
lista de cidades e sentiu curiosidade de saber, pelo menos, de onde tiraram o nome
daquele local? Com 5.565 municípios, no Brasil, o que não falta é criatividade,
e dela surgem os nomes mais diversos: de Varre-sai (RJ) a Filadélfia (TO),
passando por Grão Mongol (MG). Procurando o código de Discagem Direta a
Distância (DDD) de uma cidade, o nome Lagoa da Confusão, município localizado
no Tocantins, chamou a atenção do pesquisador pernambucano Homero Fonseca.
Ficou intrigado e quis saber o porquê do nome. Decidiu olhar mais atentamente a
lista de cidades e percebeu que muitos municípios brasileiros tinham nomes
peculiares e não havia nenhuma bibliografia para explicar a razão da
denominação.
A partir de então, Homero se
incumbiu dessa tarefa de estudar a origem dos nomes das cidades. Afinal, assim
como as pessoas têm curiosidade de descobrir a origem do sobrenome e os respectivos brasões, os moradores querem saber
o que inspirou a denominação do local onde vivem. Par Homero, a descoberta
remete a um pouco da história, da geografia e da cultura dos municípios.
“Percebemos que, das cidades brasileiras com nomes de pessoas, 800 são de
homens e 80 de mulheres. Isso reforça o quanto a cultura brasileira ainda é
machista”, diz.
Pernambucano, Homero começou a pesquisa
pelas cidades principais da terra natal: Recife e Olinda. Depois passou por São
Paulo e chegou ao Distrito Federal. Apesar da pouca idade do DF, a explicação etimológica
das localidades foi grande. A dificuldade começa pelo tratamento que é dado às
cidades locais: regiões administrativas. “O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), que é uma boa fonte, junta todas as informações como Distrito
Federal, o que dificulta muito”, contou o pesquisador. Por fim, com a ajuda das
administrações locais, Homero catalogou a origem do nome de 20 das 30 regiões administrativas
do DF (veja quadro). Os verbetes foram reunidos em um catálogo intitulado Em
nome das cidades e está sendo distribuído pelo Sesi-DF.
Desigualdades
O que chamou a atenção de Homero
foi a desigualdade social do DF. Enquanto as regiões nobres, como Brasília, são
bem documentadas, em locais carentes, como o Itapoã, há muita dificuldade para
encontrar documentos históricos ou personagens que esclareçam a origem da
denominação. Em lugar do desânimo, os obstáculos animaram o pesquisador, que se
deparou com uma variedade de origens. Itapoã, em meio ao Cerrado, é uma homenagem
uma das praias de Salvador. A diferença é que lá, na terra de Dorival Caymmi,
apalavra é grafada com “u” (Itapuã).
Ceilândia segue um roteiro
absolutamente diferente. Nasceu de uma sigla — CEI, que significava Campanha de
Erradicação das Invasões. O local escolhido para abrigar as famílias espalhadas
pelo DF acabou sendo batizado de Ceilândia. A vizinha Taguatinga manteve o nome
da fazenda onde foi construída.
Já São Sebastião vem do nome de
um popular. “Isso é muito raro no Brasil, a maioria das cidades quando
homenageia alguém é sempre um figurão”, explica o pesquisador. Sebastião de Azevedo
Rodrigues, hoje com 67 anos, chegou a Brasília quando tinha 16 em um pau de
arara. Dos 26 homens que deixaram Patos de Minas (MG) em 1959 e subiram no
veículo rumo à construção de Brasília, sete se chamavam Sebastião. Para
diferenciá-los, cada um pegou a alcunha da atividade que exercia. Era o Tião Cortador
de Tijolo, o Tião do Forno, o Tião da Pipa. O Rodrigues virou o Tião Areia. O
Tião Areia não sabe ler, mas fez moradia
na região entre as fazendas Taboquinha e Papuda— que tinha esse nome porque a
dona das terras tinha bócio.
O local era conhecido como ponto
de comércio de material de construção. “Não queriam me trazer porque eu tinha o
tornozelo grosso, e, em Minas, dizem que isso é sinal que o cabra é
preguiçoso”, lembra-se Tião. Mas o Tião Areia acabou trabalhando muito e
loteando a cidade antes destinada para fins comerciais. Quando foram escolher o
nome da cidade, em 1982, a dúvida era entre Eucaliptal e Sombra da Serra. “Me
lembro, como se fosse hoje, que uma moça levantou, leu uma carta e pediu para
que a cidade se chamasse São Sebastião porque eu tinha ajudado a construir aqui”,
diz emocionado.
Águas Claras
» Como Águas Claras se localiza
em uma reserva ecológica cheia de riachos de águas claras, o nome surgiu daí.
Brasília
» Brasília é a versão feminina da
palavra Brasil, que vem do latim.
Brazlândia
» Na década de 30, enquanto a
cidade ainda era distrito, o povoado recebeu esse nome em homenagem à família
mais numerosa da região: a família Braz.
Candangolândia
» Em 1956, uma das empresas
responsáveis pela construção de Brasília montou um acampamento para abrigar a
sede e pagar os 1200 trabalhadores que acampavam por perto. Na época, a maioria
dos operários eram nordestinos apelidados de candangos. Palavra de origem
africana que significa trabalhador braçal. Com o tempo, os acampamentos viraram
cidades e surgiu a Candangolândia.
Ceilândia
» No fim dos anos 1960, um
contigente de brasileiros veio para a capital na esperança de ganhar a vida.
Sem dinheiro, muitos iam morar em favelas. Para resolver o impasse social gerado
pela intensa migração, nasceu a Campanha de Erradicação das Invasões (CEI). A partir
da sigla, surgiu a cidade com o nome Ceilândia.
Cruzeiro
» Antes de o bairro ter este
nome, chamou-se Setor Residencial Econômico do Sul, Bairro do Gavião e Cemitério—
por causa de suas casinhas brancas nomeio do campo. Virou Cruzeiro em homenagem
a uma missa realizada numa cruz de pedra, também chamada Cruzeiro, próxima a
Brasília.
Gama
» O povoado surgiu às margens do
Rio Vermelho no século 18. Na época da fundação, o padre Luiz da Gama celebrou
uma missa e os habitantes do local batizaram o lugarejo de Gama em homenagem ao
pároco.
Guará
» O nome é uma homenagem ao
Córrego Guará, que corta a região onde a cidade foi construída. O córrego tem esse nome por causa
do lobo guará, animal típico do Cerrado brasileiro.
Itapõa
» Tem esse nome porque antes de
ela se tornar cidade existia um condomínio no local. O dono do condomínio
chamou o lugar de Itapoã para homenagear a Praia de Itapuã, em Salvador. Na
língua tupi, itapoã quer dizer ponta de pedra.
Núcleo Bandeirante
» Durante a construção de
Brasília, antes de ser chamar Núcleo Bandeirante, o local era conhecido como
Cidade Livre. Era para ser um setor comercial temporário, livre de impostos. Mas
em 1960, a cidade já tinha 12 mil habitantes e nenhum dos moradores queria
deixar o lugar supostamente temporário. Fizeram um movimento e permaneceram
ali. Hoje, Núcleo Bandeirante é uma cidade urbanizada, que ganhou esse nome em
homenagem aos bandeirantes.
Paranoá
» A cidade tem esse nome porque
surgiu às margens do Lago Paranoá. Na língua tupi, Paranoá quer dizer “rio
largo”. Existe uma lenda que diz que um curumim de nome Paranoá foi enviado por
Tupã — deus trovão — para viver sozinho no Cerrado, sob os olhos de Jaci —
deusa da lua.
Planaltina
» Antes de se chamar Planaltina,
a cidade se chamava Mestre d’Armas. Em 1917, mudou para Planaltina porque foi fundada
no coração do Planalto Central há mais de 150 anos.
Recanto das Emas
» A cidade tem esse nome por
causa de um sítio da região chamado Recanto, onde havia uma grande quantidade
de emas.
Riacho Fundo
» A região onde está localizada a
cidade tem várias nascentes, e o nome foi inspirado na identificada como Riacho
Fundo.
Samambaia
» A cidade repete o nome do
Córrego Samambaia em cujas margens há grande quantidade da planta homônima.
Antes de ser uma cidade, Samambaia era uma chácara, com plantação de flores,
verduras e frutas. Nos anos 1980, o lugar acolhia brasileiros que chegavam de todas
as regiões do país. Em 1989, virou oficialmente cidade.
Santa Maria
» O nome Santa Maria veio do Rio
Santa Maria, um dos cursos d’água que banham o lugar.
São Sebastião
» O nome é uma homenagem a
Sebastião de Azevedo Rodrigues, conhecido como Tião Areia. Ele foi um dos
primeiros a chegar à região. Na época da construção de Brasília, São Sebastião
era onde ficava boa parte dos comerciantes de material de construção. Até hoje,
há uma grande produção de tijolos no local.
Sobradinho
» Na região onde a cidade foi
fundada existia um cruzeiro. Certo dia, um joão-de-barro pousou em cima dele e
construiu uma casinha diferente. Parecia um sobrado em miniatura. Os moradores
do local ficaram tão impressionados que o lugar passou a se chamar Sobradinho.
Taguatinga
» Após a inauguração de Brasília,
os migrantes de todo o país não paravam de chegar. Para tentar resolver o
problema de moradia, o Governo do Distrito Federal criou a cidade na área da Fazenda
Taguatinga. Assim, a cidade ganhou nome igual. Em tupi, Taguatinga significa
barro branco, porque no leito do rio que cortava fazenda havia argila branca.
Varjão
» A cidade começou a se formar na
antiga Fazenda do Brejo, ou do Torto. Recebeu o nome de Varjão pela geografia
do lugar: terreno plano às margens do rio chamado de Várzea ou Vargem, que
acabou derivando para Varjão. É uma das mais novas cidades do DF, oficialmente
criada em 1993.
Via: Correio Braziliense
Muito bom, facilitou muito nossas pesquisas. Em breve nossa expedição estará em DF e Goiás. www.viajandotodoobrasil.com.br
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