Novo bairro incha São Sebastião
Andréa Lima, moradora do Jardins Mangueiral, é espelho dos problemas enfrentados pelos outros moradores do local: "Sorte que temos carro, porque ônibus não tem" |
A criação do Jardins Mangueiral transformou São Sebastião na cidade que mais cresce do Distrito Federal. Nos últimos dois anos, a região administrativa teve um incremento populacional de 12% — a população do DF aumentou, em média, 2,5% em 12 meses. Apesar disso, essa mudança não significou desenvolvimento para a região considerada de baixa renda. A infraestrutura e a oferta de serviços não acompanharam o boom de moradores. Nas ruas, sobram reclamações sobre a falta de um hospital, de agências bancárias, de vagas de emprego e de transporte público de qualidade.
A população de São Sebastião passou de 77.793, em 2011, para 97.977, neste ano, de acordo com a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad), da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). Além de influenciar diretamente o crescimento populacional, o Jardins Mangueiral elevou a escolaridade e a renda dos moradores e aumentou a quantidade de bens, como automóvel e televisão, por domicílio. Mas pouco teve influência na geração de postos de trabalho e na melhoria da condição de vida da comunidade.
Essa realidade é enfrentada pela diarista Marly Feitosa, 42 anos. Ela mora em São Sebastião desde 2000 e não percece investimentos nas áreas de transporte, saúde e educação. Quanto à oferta de emprego, conta que nunca prestou serviço na cidade. “Prefiro trabalhar no Lago Sul. Lá, tem bastante trabalho e, aqui, os salários são mais baixos”, afirmou. Marly tem quatro filhos. Dois deles estão na universidade e precisam ir até o Plano Piloto devido à falta de instituições de ensino superior na região.
A comerciante Fernanda Aparecida Martins, 30 anos, mora em São Sebastião há cinco anos e percebeu o inchaço da cidade nos últimos anos. “O trânsito está complicado, e as ruas, com mais gente. Como temos uma loja, se precisamos de serviços bancários, temos de ir até o Lago Sul”, queixou-se. A saúde, para ela, é o outro ponto que precisa de mais atenção. “Aqui, não temos hospital. Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), levamos de quatro a cinco horas para sermos atendidos. Imagina esse atendimento com a população crescendo desse tanto?”, questionou.
Presidente da Codeplan, Júlio Miragaya explica que existem dois aspectos para explicar a situação de São Sebastião. “O primeiro deles é que você tem uma RA de baixa renda, que agrega um setor de média renda. Essa migração para o Mangueiral reforçou o pequeno contingente de classe média”, apontou. Segundo ele, o número de domicílios com automóveis passou de 40% para 52%, e, entre aqueles que têm nível superior, a quantidade subiu de 3,5% para 10% do total de habitantes.
Outro ponto que deve ser analisado, de acordo com Miragaya, diz respeito às consequências do boom populacional na cidade. “Esse aumento demográfico provoca um impacto na oferta de serviços públicos e empregos, por exemplo. Eles não acompanharam o acelerado crescimento populacional. A cidade também não tem hospital próprio, e boa parte dos moradores estuda fora. A maioria trabalha em outros lugares”, continuou o presidente da Codeplan.
A técnica de enfermagem Andréa Rocha de Oliveira Lima, 27 anos, mudou-se há pouco mais de ano para o Jardins Mangueiral. A tranquilidade de morar na casa própria, no entanto, não abafou outras necessidades da família. “Quando precisamos de alguma coisa, vamos até São Sebastião. Sorte que temos carro, porque ônibus, aqui dentro, não tem. No supermercado, por exemplo, os preços estão muito caros, pois os comerciantes aproveitaram a nossa vinda para aumentar tudo”, reclamou. Apesar da falta de infraestrutura, Andréa gosta de morar no bairro. “É bem tranquilo. Vamos esperar a inauguração do primeiro comércio, e temos a promessa de construção de uma escola e de postos de saúde e policial”, disse.
RadiografiaPopulação
2011 77.793
2013 97.977
Escolaridade
Não estuda 66.288 (67,66%)
Escola pública 26.581 (27,13%)
Escola particular 5.108 (5,21%)
Analfabeto (15 anos ou mais) 2.032 (2,07%)
Fundamental incompleto 38.993 (39,81%)
Fundamental completo 4.449 (4,54%)
Médio incompleto 10.654 (10,87%)
Médio completo 18.728 (19,11%)
Superior incompleto 4.558 (4,65%)
Superior completo 4.833 (4,93%)
Trabalho
População empregada acima de 10 anos 45.968
Em Brasília 16.256 (35,36%)
Em São Sebastião 15.539 (33,78%)
Habitação
Nº de domicílios 27.405 (22,44%)
Próprio 6.151 (45%)
Próprio em terreno não regularizado 12.357
Renda
Domiciliar (em salários mínimos)
2004 5,2
2011 3,44
2013 3,97
Per capita (em salários mínimos)
2004 1,4
2011 0,92
2013 1,12
Residencial para classe média
Localizado em São Sebastião, o Jardins Mangueiral ocupa uma área de 200 hectares. O residencial é destinado a pessoas com renda entre quatro e 12 salários mínimos e o financiamento é feito pelo Programa Minha Casa, Minha Vida. Planejado para ser um bairro planejado para cerca de 30 mil moradores, tem casas de dois e três quartos e apartamentos com dois quartos. A promessa do governo é que sejam 8 mil unidades, distribuídas em 15 quadras. O terreno em que está localizado o setor habitacional pertencia ao Governo do Distrito Federal (GDF), que fez a concessão para o Consórcio Jardins Mangueiral. A empresa, além da construção, é responsável pela manutenção das vias públicas e áreas verdes, mediante contraprestação do DF, pelo prazo de cinco anos.
Via: Correio Braziliense
Via: Correio Braziliense
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