A cultura livre - Casa Frida: O lar da cultura
Esta série
de reportagem busca dar luz a cultura invisível ao Plano Piloto, mas que tem
extrema relevância dentro das regiões administrativas do DF. No primeiro
capítulo falamos sobre o espaço Jovem de Expressão, em Ceilândia. Hoje a
série segue para São Sebastião.
O rosto da
artista plástica Frida Kahlo estampa a frente da casa 121 da Rua 30 de São
Sebastião, região administrativa a 21,4km da Rodoviária do Plano Piloto. A
imagem da mexicana poderia ser apenas mais um grafite nas ruas da cidade em
frente a uma residência como qualquer outra. Mas a figura anuncia que ali está
um lugar especial: um espaço de resistência feminista, acolhimento e promoção
de cultura, arte e educação que atende pelo nome de Casa Frida.
A Casa Frida é literalmente uma residência, com três quartos, sala, banheiro,
cozinha, garagem e quintal — esses dois últimos são os espaços que abrigam as
principais atividades, mas nada impede que alguém em situação de risco possa
usar um dos quartos. A ideia do projeto é ser um lar para a comunidade. Até por
isso, é fácil encontrar nas paredes frases de apoio e grafites que representam
as mulheres e a ideia de coletividade.
O rosto da
artista plástica Frida Kahlo estampa a frente da casa 121 da Rua 30 de São
Sebastião, região administrativa a 21,4km da Rodoviária do Plano Piloto. A
imagem da mexicana poderia ser apenas mais um grafite nas ruas da cidade em
frente a uma residência como qualquer outra. Mas a figura anuncia que ali está
um lugar especial: um espaço de resistência feminista, acolhimento e promoção
de cultura, arte e educação que atende pelo nome de Casa Frida.
A Casa Frida
é literalmente uma residência, com três quartos, sala, banheiro, cozinha,
garagem e quintal — esses dois últimos são os espaços que abrigam as principais
atividades, mas nada impede que alguém em situação de risco possa usar um dos
quartos. A ideia do projeto é ser um lar para a comunidade. Até por isso, é
fácil encontrar nas paredes frases de apoio e grafites que representam as mulheres
e a ideia de coletividade.
Com foco
inicialmente na cultura do público feminino, o nome do espaço tem inspiração
óbvia na artista plástica Frida Kahlo por tudo que ela representou para as
mulheres e para o movimento feminista. Mas também é uma sigla dos princípios do
espaço: feminismo, revolução, igualdade, diversidade e amor. “Também temos um
lema que é transformar a dor em arte e espalhar amor por toda parte. É o que
rege nossa atuação”, completa Hellen.
De forma fixa, na Casa Frida são ministrados dois cursos de extensão: um com a
temática sociedade, trabalho e capitalismo, do Instituto Federal de Brasília
(IFB), às quartas, às 19h; e outro, o corpolítica, em parceria com a
Universidade de Brasília (UnB), um coletivo destinado à mulheres com o objetivo
de romper barreiras e construir um empoderamento teórico, acadêmico e pessoal,
aos sábados, às 14h.
Moradora de
São Sebastião há 19 anos, a poeta Thibi conta que a região estava carente de
espaços culturais e de locais que discutissem temáticas voltadas ao mundo das
mulheres. “As meninas estavam sem esse tipo de diálogo. Aqui a cultura machista
e do estupro são muito fortes”, diz.
Além disso,
há a Roda de São Samba, que celebra o samba da comunidade e das mulheres que
produzem o estilo no DF, e o Cine Clube Feminista, que ocorre na casa e nas
escolas públicas da região, com exibição de filmes com diretoras, atrizes ou
temáticas de protagonismo feminino.
Alicerce da
população
Desde o
surgimento, a Casa Frida se tornou popular entre a comunidade de São Sebastião.
Pelas ruas, a maioria das jovens sabem do que se trata o espaço, por conta da
atuação dele na cidade e também dentro das escolas. “Conseguimos nos inserir
bem na comunidade. Temos o apoio e as parcerias da escolas. Logo no primeiro
mês de atuação havia um reconhecimento do que estávamos fazendo”, aponta Hellen
Cristhyan.
No entanto, pelo fato de a casa ser um espaço de resistência existem também
pessoas da comunidade que não aprovam as atividades do local. “Nem todo ponto
de resistência é visto com bons olhos porque a gente pensa na libertação das
pessoas, para que elas possam criar novos valores”, comenta Hellen.
De acordo com a poeta Thibi, várias pessoas da comunidade procuram a casa, mas
no momento o maior desafio é aumentar esse contato com a população. “A Casa
Frida ficou conhecida como ponto cultural regional muito rápido”, completa.
Integrantes e participantes das atividades da casa integram, por exemplo, o
Conselho de Cultura de São Sebastião e também o Fórum de Mulheres do Entorno.
Hellen, a
pequena Ana Frida (filha de Hellen) e Thibi são as atuais moradoras da Casa
Frida. Porém, a casa considera qualquer participante como um membro da
iniciativa, independentemente de ser mulher ou homem. “A casa, antes de tudo, é
um ponto de cultura. Tem gente que vem e se sente tão pertencente quanto nós. A
Casa Frida é ela, não somos nós”, analisa Hellen.
Reconhecimento
do valor
A
importância da Casa Frida em São Sebastião fez com que o espaço fosse
reconhecido por diversas iniciativas. Dessa forma, a casa, ao longo deste ano,
foi palco de show do Festival Móveis Convida, de oficina do projeto Favela
Sounds, e recebeu parte da programação do 5º Curta Brasília, festival
internacional de curta-metragem.
A designer de moda Nina Maria passou uma semana ministrando uma oficina na Casa
Frida a convite do festival Favela Sounds. Ela nunca tinha ouvido falar no
local e diz que se surpreendeu quando chegou lá. “Fiquei sinceramente abalada
emocionalmente quando vi o lindo trabalho que é desenvolvido na casa”, lembra.
Nina produziu com as participantes uma viseira turbante, que tem como objetivo
desenvolver o empoderamento do cabelo afro. “Passei por dias de muita emoção. A
realidade do Plano Piloto é muito diferente. Se a gente deixar, a gente esquece
das pessoas que estão em uma situação vulnerável na periferia”, completa.
Ao fim do
curso, Nina doou duas máquinas de costura para a casa e se comprometeu a passar
um treinamento. “Acho que o espaço é um exemplo, assim como as meninas que
estão lá. Fiquei muito agradecida de participar, porque uma coisa é ver a
página do Facebook e curtir, outra é ter uma participação. Eu já estive em um
lugar parecido com o delas e a máquina de costura foi o que me tirou do buraco”,
justifica.
Desafios do
projeto
O trabalho
da Casa Frida em São Sebastião é de suprir uma necessidade que existe na região
administrativa: a falta de promoção à cultura. “Temos convicção que a Casa
Frida existe porque há uma lacuna do governo que não consegue promover arte e
cultura nas periferias de forma horizontal. A gente luta para que isso acabe e,
quando acabar, a Casa Frida não terá a necessidade de existir”,
afirma Hellen.
Casa Frida
Endereço: Rua 30, Casa 121, Vila Nova, São Sebastião (DF)
Contato: 98360-1676, casafridadf@gmail.com e página oficial no
Facebook
Atividades: Cursos de extensão em parceria com IFB e UnB, oficinas, saraus
e projetos, como Roda de São Samba e Cine Clube Feminista.
Manter um
espaço como a Casa Frida é um desafio. Hellen e Thibi contam que a casa não tem
CNPJ e nem se caracteriza como ONG. Doação e patrocínio empresarial e
governamental não são aceitos no espaço, apenas individuais. “Acreditamos em
editais públicos, mesmo com a dificuldade e burocracia deles, e políticas de
estado. O Estado tem que ser forte e arcar com essa lacuna”, diz a produtora
cultural.
Atualmente,
a Casa Frida sobrevive da colaboração da comunidade, da renda das meninas que
fazem doces, camisetas e cadernos artesanais para vender, além de uma
arrecadação pela internet chamada 50 por Frida, em que qualquer pessoa pode
doar pelo menos até R$ 10 todo mês, por meio de um carnê. “Tem várias formas
que as pessoas podem nos ajudar, com apoio político, promovendo oficinas e
palestras. A casa é aberta aos movimentos sociais. Aceitamos qualquer ajuda
desde que seja individual e de coletivos sociais e culturais”,
explica Hellen.
Via: Correio Braziliense, acesso em 03/01/2017. Disponível no link: https://correiobraziliense.atavist.com/casa-frida-o-lar-da-cultura
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