Jardim Botânico pode ganhar complexo para 10 mil moradores
O parcelamento envolve a criação de 64 lotes residenciais, comercias e institucionais, prevendo-se uma população permanente de 10,5 mil habitantes |
Em pleno processo eleitoral e no
apagar das luzes do governo de Rodrigo Rollemberg, o Instituto Brasília
Ambiental – Ibram convoca a sociedade civil para uma audiência pública que
tratará da concessão de licença ambiental a um mega empreendimento imobiliário
na Região Administrativa do Jardim Botânico. Denominado Quinhão 16 da Fazenda
Taboquinha, o parcelamento a ser implantado em duas etapas, ocupará uma área
de, aproximadamente, 204 hectares na bacia do Ribeirão Taboca, um dos
principais tributários do Rio Santo Antônio do Descoberto. A área é particular
e as normas do PDOT determinam que a região não pode ter uma densidade
populacional elevada.
A Audiência estava marcada para o dia
26/09, às 15 horas, mas por falhas nas formalidades juridicas foi adiada, ainda
sem data marcada. O parcelamento envolve a criação de 64 lotes residenciais,
comercias e institucionais, prevendo-se uma população permanente de 10,5 mil
habitantes e uma população flutuante (empregados, visitantes etc.) de 6,9 mil
pessoas, totalizando 17,4 mil pessoas. Não está claro na papelada encaminhada
ao GDF quantas edificações serão feitas e de que tipo. Entretanto, uma petição
pública organizada na internet pela ambientalista Shirley N. Hauff afirma que
serão “mais de 180 prédios”. Uma maquete eletrônica constante do relatório de
impacto ambiental elaborado pelos promotores do empreendimento traz imagens de
prédios do tipo dos existentes nas superquadras do Plano Piloto. Porém com oito
e nove pavimentos. Desta forma, 180 prédios equivaleriam a 16 superquadras,
enquanto que 17,4 mil pessoas se aproximam a população de nove superquadras.
Essas grandezas dão uma noção do porte desse empreendimento imobiliário, cuja
responsabilidade é de um grupo denominado INCO Empreendimentos Imobiliários
S.A.
Canion
O empreendimento pretende ocupar as
encostas do que poderíamos chamar de cânion formado pela bacia do Rio Taboca.
Os prédios seriam erguidos inclusive nas encostas desse cânion, o que é
criticado pelos ambientalistas. Na regularização dos condomínios existentes
naquela região, o GDF tem contestado o uso de áreas escarpadas e com inclinação
acentuada.
A região é rica em fontes hídricas e
o próprio estudo ambiental realizado identificou espécimes de peixes que não
habitam o lago Paranoá. Além de aves, mamíferos e uma flora de cerrado bastante
rica.
O próprio relatório atesta que a área
é classificada como Zona Urbana de Uso Controlado, composta predominantemente
de unidades habitacionais de baixa densidade demográfica, com enclaves de alta
densidade, sujeitas a restrições impostas por sua sensibilidade ambiental e
pela proteção dos mananciais destinados ao abastecimento de água.
Com uma população do porte
apresentado o projeto não especifica claramente de onde virá a água a ser
consumida pela população que lá irá morar. Cogitam utilizar água da Caesb a ser
coletada no futuro do Lago Paranoá, nas imediações da Ponte JK; ou então se
valer de manancial subterrâneo existente no local e não descartar usar água
captada diretamente do Ribeirão Taboca.
Abastecimento
e saneamento
Não existem na região sistemas
públicos de esgotamento sanitário e de drenagem pluvial integrada. A rede de
energia elétrica é aérea com sistema precário de iluminação pública. Pelo
projeto, não está claro para onde irá o esgotamento sanitário dessa população,
estimado em 44,68 litros de esgoto por segundo. Segundo o próprio relatório, o
interceptor da CAESB ainda em construção para atender o bairro do Jardim
Botânico não suportaria um acréscimo de vazão. “A Alternativa considera a
implantação de um sistema coletor na área do empreendimento, a construção de
uma ou duas estações de tratamento de esgotos específicas, para esse setor, e
lançamentos finais dos efluentes líquidos no curso d’água Taboca.” Ou seja, o
projeto imobiliário propõe jogar os efluxos sanitários no Ribeirão Taboca,
afluente do rio São Bartolomeu, mesmo curso d’água de onde se cogita retirar a
água a ser consumida de forma potável. Mesmo considerando que o projeto nessa
hipótese iria providenciar um tratamento das águas negras – como o esgoto é
classificado -, trata-se de uma solução que causa espécie aos moradores da
região que temem a contaminação das águas. Vale lembrar, que esse curso d’água
alimenta a bacia do São Bartolomeu, cujas águas são muito utilizadas em
produções agrícolas.
APAs
Embora esse empreendimento possa
provocar impactos em três grandes Áreas de Proteção Ambiental: APA Gama e
Cabeça de Veado, APA do Lago Paranoá e APA do Rio São Bartolomeu, além de três
parques (das Copaíbas, Bernardo Sayão e Vivencial Canjerana) além do Parque das
Esculturas, criado oficialmente, mas ainda não implementado pelo GDF; e a
Reserva Biológica Cerradão, não houve até o momento a submissão de tal
empreendimento aos conselhos gestores desses espaços ambientais. Preocupada com
o cenário, a Associação dos Amigos do Córrego do Mato Seco – AMAC-Park Way,
integrante do Conselho Gestor da APA Gama e Cabeça de Veado, já solicitou
formalmente que o projeto seja analisado pelo referido conselho.
Moradores circunvizinhos estão
preocupados com o adensamento populacional e seus impactos não só sob o aspecto
ambiental, mas também estrutural, em especial para a mobilidade urbana, já que
o perfil de população que viria a morar num empreendimento desse porte teria
vínculos profissionais e acadêmicos com o Plano Piloto. E tanto a Ponte JK
quanto as vias do Jardim Botânico se encontram saturadas e há carência de
transporte público.
Segundo Thiago de Andrade a área onde
se pretende realizar esse projeto imobiliário é considerada urbana e pode ser
parcelada desde que com baixa densidade populacional. Além disso, ele informa
que após a autorização ambiental o projeto terá que ser avaliado ainda sob os
critérios urbanísticos.
Fonte:https://chicosantanna.wordpress.com/2018/09/24/urbanismo-jardim-botanico-pode-ganhar-complexo-para-10-mil-moradores/
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