O futuro da nossa casa
A humanidade nunca esteve tão incerta e insegura em relação
ao próprio futuro como neste século XXI. O despertar tardio do homem para a
necessária ação de cuidar do ambiente que o cerca se traduz não apenas na
ignorância e incredulidade humanas quanto às muitas previsões científicas
feitas há mais de um século por renomados estudiosos e ecologistas - alertando
as nações sobre a possibilidade real da ocorrência de catástrofes naturais
(mudanças climáticas atípicas, escassez de água, elevação da temperatura do
planeta, processo de desertificação, enchentes, tsunamis, etc.), mas também
revela a inequívoca atitude do homem em continuar submetendo a natureza à
lógica exploratória e predatória do capitalismo selvagem, lógica esta que
insiste em preconizar a tresloucada busca do lucro, o consumismo e o
individualismo a todo e qualquer custo, ainda que isso comprometa a
sustentabilidade, o bem-estar dos seres vivos e a sobrevivência da população
mundial.
Em tempos de Rio +20 e de discussão do Código Florestal, e apesar
de se ouvir muito por ai sobre a tão disseminada onda de “consciência verde”, parece
que toda ação voltada para a preservação e conservação do meio-ambiente ainda é
insuficiente diante do elevado índice de desmatamento, poluição dos grandes
centros urbanos, contaminação das águas e exploração indiscriminada dos parcos
recursos renováveis a nível global – práticas ecologicamente inadequadas que
ganharam corpo pra valer ao tempo em que o mundo assistia contemplativo ao
nascer da Revolução Industrial na Inglaterra do século XVIII.
Todavia, se essas ações ainda são paliativas na perspectiva
global, pensar em soluções a nível local pode ser uma saída para que as pessoas
tomem consciência de que cada um pode e deve fazer a sua parte na missão de cuidar
do planeta. A consciência ecológica deve surgir a partir do espaço particular e
individual de cada um, isto é, o nosso próprio corpo, que é a primeira morada
da alma, pois se não estivermos bem com o corpo que habitamos, dificilmente
estaremos em harmonia com o outro e o universo. E depois, os cuidados devem
partir das nossas casas propriamente ditas, pois são nelas que passamos boa
parte do nosso tempo. Pequenas atitudes como fazer a separação adequada do
lixo, reduzir o tempo de banho no chuveiro, reaproveitar a água da lavagem de
roupa para outras necessidades e assim por diante, podem até parecer ações
muito simples e ineficazes, mas são absolutamente fundamentais.
Cuidar da própria casa, aqui, ganha uma dimensão especial se
considerarmos que a natureza é, em princípio, a casa do homem. E por assim ser, cumpre saber até que ponto
ela está sendo bem cuidada por cada um de nós. Levando-se em consideração boa
parte das muitas previsões que os cientistas já faziam mesmo antes da década de
1960, percebemos que as nações, especialmente as do chamado Primeiro Mundo, não
deram lá muita importância para o fato de que o processo de desmatamento, por
exemplo, poderia levar à desertificação, que isso levaria ao aumento
substancial do efeito estufa; que o efeito estufa contribuiria para o
derretimento das calotas polares, provocando a elevação do nível dos oceanos
que, por sua vez, causaria uma série de mudanças climáticas e estas, por sua
vez, acarretariam alagamentos de cidades litorâneas. No final das contas, quem está pagando bem caro por esse erro são muito mais os países pobres do que propriamente os desenvolvidos.
Enfim, a humanidade vem fazendo até aqui ouvidos moucos a
tais questões. Contudo, para além da necessidade de uma ação mais firme e
radical das nações em relação à execução de políticas ambientais mais rigorosas
e punitivas aos desmatadores e companhia, o mundo ainda se depara com a sina de
produzir riquezas ininterruptamente. E neste caso, as grandes questões que se
colocam são: como usufruir dos recursos naturais gerando crescimento econômico e
inclusão social sem, ao mesmo tempo, agredir o ambiente? e Como cobrar o compromisso das nações ricas de se empenharem com afinco na preservação do planeta?
Em tempos em que a palavra “sustentabilidade” se tornou
vocábulo tão recorrente nos meios político, acadêmico e ecológico, parece mesmo é que as
populações e principalmente os governantes, na prática, ainda não se apropriaram
devidamente desse termo, o qual vem sendo usado apenas para inglês ver. Pelo visto, a ficha não caiu. Daqui
pra frente, o nosso desafio será conciliar a melhor forma de colhermos os
frutos da terra sem agredir o meio. Sim, sejamos utópicos, ainda que
contrariando os pessimistas! É possível conciliar isso, desde que a balança esteja
equilibrada para ambos os lados e que as florestas, as águas, os rios, os
mares, o petróleo, as jazidas, enfim, o conjunto de recursos naturais, não seja
considerado um tesouro a ser dissipado, esgotados como o fez o filho pródigo com a herança
que lhe herdou o pai, mas bem cuidado, poupado, cultivado, pois apesar de sua
capacidade de regeneração, um dia a fonte seca, um dia a natureza não suportará.
Pensar ecologicamente é importante, mas agir como tal é
essencial. E pensar assim, já o fazemos há muito tempo. Agora, cumpre partir
para a ação. E já, pois é o futuro da nossa casa e das próximas gerações que
está em jogo. O nosso compromisso deve ser com o presente, pois se temos o
direito de viver em um planeta saudável e limpo, temos o dever de garantir que
ele assim também o seja aos que ainda povoarão este mundo.
Francisco Neri