São Sebastião: vida entre morros
Geraldo de Jesus, morador de São Sebastião |
O jardineiro Geraldo de Jesus, 56 anos, é um típico morador de São Sebastião. Apesar das carências da cidade, não a troca por lugar algum. Gosta do sossego das ruas, mesmo com os perigos da noite. Cultiva as antigas amizades. Guarda na memória as dificuldades para fixar-se na outrora agrovila. E adora visita os "mais de 50 parentes" que também moram lá, principalmente os sobrinhos, que viu nascer e crescer em São Sebastião.
Geraldo chegou ao lugar com os pais e 10 irmãos em 1958. A família havia saído de Patos de Minas (MG) à procura de trabalho. "A gente veio arriscar. Logo meu pai conseguiu uma vaga em uma das cantinas das cerâmicas", conta Geraldo. Naquela época, São Sebastião ainda não existia como cidade. As terras que ocupava haviam sido desapropriadas dois anos antes para a construção de Brasília. Antigas fazendas deram lugar a grandes olarias e cerâmicas.
Gente de todos os cantos desembarcavam em caminhões para trabalhar na exploração e comércio de areia, tijolos e telhas. Cerca de 97% dos tijolos maciços e furados usados na construção da capital foram produzidos no local que até então era conhecido como fazenda Papuda.
Geraldo cresceu em meio a este cenário."As casas eram simples, mas tinha moradia para todo mundo. E eram de alvenaria, pois pertenciam às cerâmicas", ressalta. Outra boa lembrança eram as riquezas naturais. "Tomei muito banho no Córrego da Papuda", diz. O córrego hoje corta a parte baixa da cidade e está poluído. Ele, os irmãos e filhos dos trabalhadores das olarias e cer~micas também passavam o dia correndo atrás da bola de futebol no antigo campinho de terra batida.
Grãos e radiolas
O campinho virou Campo Central José Marciano. O nome é uma homenagem a um dos irmão de Geraldo, que morreu há 10 anos. Os outros nove irmãos do jardineiro continuam vivos e morando em São Sebastião. Todos no centro, onde fica o campo. Geraldo não tem residência fixa. Passa um tempo na casa de um dos irmãos depois muda-se para a residência de um dos sobrinhos. Sempre é bem recebido por tudos.
Quando está de folga na Cassi, a Caixa de Assistência do Banco do Brasil, que fica na 716 Sul, Geraldo trabalh com os sobrinhos. Ajuda-os a ganhar a vida com fretes em carroça puxada a cavalo. No ponto em volta do Campo Central encontra os velhos amigos carroceiros. Alguns dos quais conheceu na Escola Classe Cerâmica da Bênção, a mais antiga da cidade, onde Geraldo estudou até a 8ª série.
Com esses amigos ia aos bailes animados por música tocada em radiolas, realizados nos galpões das desativadas cerâmicas. "Era nosso único lazer. Ali a gente bebia e arrumava namorada.", lembra Geraldo. Ele não se recorda da última vez que saiu à noite a cidade. "Agora não dá, é muita confusão", queixa-se. O jardineiro também reclama da falta de opções de diversão para a juventude:"Aquie você só trabalha".
Apesar da violência que acompanha o crescimento da população, hoje em torno de mais de 90 mil pessoas, Geraldo destaca o sossego das ruas durante o dia."São Sebastião é isso> gente indo e vindo do trabalho, os estudantes e as carroças." Os morros que rodiam São Sebastião ajudam a dar o ar de agrovila à cidade ofialmente criada em 25 de junho de 1993. É a terceira cidade do DF em quantidade de empregos no campo.
Nesse lugar pacato, ainda carente de muita coisa, como cinema e teatro, o jardineiro Geraldo criou as duas filha, das quais tem muito orgulho."A Glaucia tem 24 anos e já é pediatra. A Juliana está estudando para ser jornalista", destaca. AMbas moram fora do DF. Ele só não fala da ex-mulher."Minha família são meus irmãos e meus sobrinhos que moram na minha cidade de coração."
Reportagem extraída do jornal Correio Braziliense
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