Cidade Escondida
Nos arredores do Plano Piloto, existem pequenas localidades que repetem velhas tradições brasileiras de dar ao lugar o nome de quem nele primeiro chegou. Algumas são miseráveis, outras têm jeito de vida no interior
BAIRRO VILA DO BOA |
Por detrás da fachada modernista, existe uma Brasília de coração antigo, que transporta lembranças de um passado colonial, e disso quase nem sabe. As 18 vilas existentes no Distrito Federal são uma dessas pontes com as cidades de antigamente. Duas delas nasceram com o Plano Piloto, a Vila Planalto e a Vila Metropolitana. Algumas abrigam populações pobres, como a Vila Roriz e a Buritis. Outras, miseráveis, como a Vila Rafael e a Estrutural. E uma mantém a atmosfera rural, um perfume de coisas da terra, a Vila do Boa.
Vila Rafael e Vila do Boa assim se chamam em homenagem a seus fundadores, dois homens que há muito moram na terra. Há tanto tempo que quem chegava procurando um endereço, alguém respondia: Lá no Rafael, lá no Boa. Daí, o hábito fixou o nome. Vila do Boa assim se chama por conta do nome do antigo proprietário das terras, Boaventura da Silva, baiano de Barreiras, 67 anos. Seu Boa foi um dos mais bem-sucedidos produtores de hortaliças entre meados da década de 1970 e 1980 na região onde hoje se instala a cidade de São Sebastião, que também já foi vila. Com o tempo, foi dividindo os 15 hectares comprados em sociedade com um parente no início dos anos 70. Quando se separou da mulher, Senhorinha Pereira da Silva, a área restante foi loteada entre os dez filhos, que, por sua vez, retalharam seu pedaço de chão. O resultado é um aglomerado de casas modestas, no declive de um morro à entrada de São Sebastião. O homenageado diz não gostar muito da deferência. "Não morri, morto é que é nome das coisas", reage Boa, com disfarçado orgulho. Dona Senhorinha, a ex-mulher, continuou na casa onde nasceram quatro de seus filhos.
SEU BOAVENTURA DIZ QUE NÃO GOSTA DA HOMENAGEM, “AINDA NÃO MORRI” |
A outra vila, a do Rafael, também está cheia de mágoa, porém beirando à indignação, quase perto do ódio. Deu-se o nome de vila a um punhado de barracos miseráveis, feitos de pedaços carcomidos de madeirite e remendos de telha de amianto, encostada numa erosão à margem da BR-070, depois do Setor O, onde a Ceilândia acaba. Está plantada numa área originalmente destinada ao curral comunitário. Tanto que até hoje muitos conhecem o lugar como "o curral". A área é ocupada há mais de 12 anos. Rafael Balduíno de Queiroz, 58 anos, foi o primeiro a chegar. Daí o nome da vila. Veio bem antes, para ocupar o curral, quando ainda era carroceiro. Hoje fabrica manilhas.
Com o tempo, vieram novas famílias. No final do ano passado, O governo do Distrito Federal fez o cadastro dos ocupantes da área. Rabiscou um número e uma sigla na parede de cada barraco. Era o sinal de que, removidas, as famílias teriam direito a um naco de terra em outro lugar, como reza a política fundiária do GDF há mais de década. Mas até agora nada. Mais um motivo para o carroceiro Valdeci Araújo da Rocha, 34 anos, esbugalhar os olhos. Homem exasperado de tanto esperar as promessas de políticos em tempo de eleição e autoridades várias, Valdeci fala aos borbotões, duas veias inchadas no pescoço: “Todo mundo aqui é batalhador, guerreiro.
Quem disser que tem comida todo dia está mentindo. Quem disser que tem dinheiro pra ir ao mercado também. Nem todo mundo tem banheiro. A gente vive aqui com cavalo, rato, ratazana, carrapato. Isso aqui não presta, mas não temos para onde ir. Queria que as autoridades vissem nossa situação. Já estamos cansados. Tem dia que acordo de madrugada, sento na cama e me pergunto o que fazer. A gente não tem nem endereço. Mora onde? No curral? Isso é lugar de morar? Isso aqui é uma humilhação. Nós somos seres humanos.” Não se trata de retórica fácil. É preciso reafirmar a condição humana das cerca de 400 famílias amontoadas em barracos fétidos, sob pena de tanto eles quanto os de fora se esquecerem disso.
O esgoto corre no meio da rua e nele vê-se de tudo, até aquilo que deveria correr descarga abaixo. As crianças, e são muitas, brincam de pular o riozinho tenebroso, puxam dele o que pode lhes servir de brinquedo. Vivem na rua, porque casa quase não há. São quase todas morenas ou negras e têm nomes cheios de ípsilon, dábliu e de letras mudas. Dyovana Victoria, Dawson, Gleidson, Jamerson, Charles, Raissa (há muitas), Emily, Jéssica, Lerisneida, Jackeline, Jamerson, Robert, Gisele. Mas é Gilglezio, um garoto de 9 anos, quem mais se complica. Não sabe pronunciar o próprio nome. Para no Gil, já lhe é suficiente.
Fonte: Correio Braziliense
ASSOCIAÇÃO DE MORADORES E MORADORAS-AMOVILA
ResponderExcluirNo dia 7 de janeiro GUTEMBERG reuniu um grupo de moradores na comunidade para discutir a criação de uma Associação de moradores no Bairro, na primeira reunião as expectativas foram superadas, mas de 30 pessoas participaram do primeiro encontro. Já no segundo realizado no dia 15 de janeiro na E.C vila do Boa, a comunidade foi convidada novamente para reiterar sobre a criação da futura Associação, neste encontro esteve presentes mais de 50 pessoas e todos ficaram otimista com a proposta. No dia 18 de janeiro foi oficializado pelo grupo a criação da Associação. Segundo GUTEMBERG, a luta deve e irá avançar com a organização da Entidade, permaneceremos construindo, potencializando e aperfeiçoando um sistema de participação social, que atribua cada vez mais vínculos de cooperação entre a sociedade civil e o Estado.
ASSOCIAÇÃO DE MORADORES E MORADORAS-AMOVILA
ResponderExcluirNo dia 7 de janeiro GUTEMBERG reuniu um grupo de moradores na comunidade para discutir a criação de uma Associação de moradores no Bairro, na primeira reunião as expectativas foram superadas, mas de 30 pessoas participaram do primeiro encontro. Já no segundo realizado no dia 15 de janeiro na E.C vila do Boa, a comunidade foi convidada novamente para reiterar sobre a criação da futura Associação, neste encontro esteve presentes mais de 50 pessoas e todos ficaram otimista com a proposta. No dia 18 de janeiro foi oficializado pelo grupo a criação da Associação. Segundo GUTEMBERG, a luta deve e irá avançar com a organização da Entidade, permaneceremos construindo, potencializando e aperfeiçoando um sistema de participação social, que atribua cada vez mais vínculos de cooperação entre a sociedade civil e o Estado.