Confusão preocupa convocados para o bairro Crixá
A manicure Ailene Brito de Araújo, 35 anos, ficou realizada quando
recebeu uma mensagem da Companhia
de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal (Codhab). Depois de
anos de espera, a moradia própria finalmente sairia no Setor Habitacional
Crixá, do Habita Brasília, vinculado ao programa Morar Bem. O problema é que
ela foi do céu ao inferno em poucos dias. Um novo recado da pasta pediu: “favor
desconsiderar”. O mesmo problema afetou cerca de 2,5 mil pessoas, que temem
terem sido “desconvocadas”.
Ailene vive de favor com o filho de 15 anos em um terreno
compartilhado de São Sebastião. A renda média mensal da mulher é de R$ 1 mil.
Ela fez a inscrição no programa em 2011. “Recebi a mensagem pelo aplicativo
dizendo que tinha que levar a documentação, que custa cerca de R$ 170. Depois,
recebi o novo recado de que nada tinha valido. Fui até lá e disseram que foi
erro do sistema”, conta. O nome dela, na verdade, foi para o Setor Habitacional
Itapoã, sem prazo para iniciar as obras.
Mensagem enviada a inscritos avisa de erro na base de dados. Foto: Reprodução |
Confusão
A diretora de Produção da Codhab, Júnia Federman, nega que tenha
ocorrido convocação por engano ou “desconvocação”. Teria acontecido uma
“inconsistência de dados”. Dois condomínios estão em fase de indicação de
demanda: o Setor Habitacional Crixá, em São Sebastião, e o Itapoã. “Não foi
separada a indicação dos habilitados entre os empreendimentos e todos os
beneficiários receberam a mesma notificação”, explica.
Júnia garante que aqueles que foram chamados continuarão com o
processo e que não há mudança arbitrária da ordem na fila. Eventuais mudanças
seriam relacionadas às atualizações cadastrais dos candidatos. “É a faixa de
renda e a capacidade de enquadramento que determina para qual as pessoas serão
mandadas”. O Crixá é especificamente para a Faixa 1 do Morar Bem, com renda
mensal de até R$ 1,8 mil. O Itapoã, por sua vez, recebe até a Faixa 2, até R$
3.275.
Justiça
Cerca de 30 moradores que se sentem lesados com a situação estão se
organizando para entrar com ação coletiva na Justiça. Não é a primeira vez que
o autônomo Alex Pereira Viana, 34 anos, enfrenta problemas com o programa Morar
Bem. Ele conta que, em 2014, foi habilitado e convocado para o Paranoá Parque
3, mas o processo foi suspenso. “Soube que muitos entraram na Justiça e
receberam a morada. Não fiz isso na época, mas desta vez vou atrás”, diz.
Convocados por engano, eles querem o direito de seguir na lista de residencial
O nome dele estava na lista do Crixá. “Saí correndo atrás das
documentações e cheguei a pedir empréstimo para conseguir arcar com tudo”,
relata. O autônomo reclama de problemas de comunicação com o órgão, que daria
informações desencontradas. A suspeita é que tenha interferência política na
região. “Depois que começaram as reclamações, passaram a indicar as pessoas
para o Itapoã, que sequer está encaminhado. Queremos quer evitar tudo isso”,
assegura.
Segundo a Defensoria Pública do Distrito Federal, ainda não houve
qualquer atuação judicial sobre o empreendimento ou o programa.
Em obras
A Codhab assinou a contratação de 1.360 unidades de duas fases do
empreendimento Crixá, que terá um total de 3.120 apartamentos. As obras já
começaram. A previsão é de dez meses para conclusão, terminadas em dezembro. No
primeiro trimestre de 2019 devem ocorrer as primeiras entregas.
O investimento é de mais de R$ 134 milhões do programa Minha Casa,
Minha Vida. O recurso é distribuído nas obras de habitação e de infraestrutura,
com implementação de água, esgoto, drenagem de águas pluviais, energia e
iluminação pública. Ainda com a verba, será construído um centro de ensino
infantil (CEI) nas proximidades.
Serão 3.120 apartamentos, com previsão de 11 mil moradores de São
Sebastião. Os imóveis fazem parte do primeiro parcelamento urbano do Habita
Brasília, vinculado ao programa Morar Bem. Os imóveis são de 47,5 metros
quadrados, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Os beneficiários são famílias
já cadastradas na Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Distrito Federal
(Codhab).
No dia 16 de maio, o governo anunciou a convocação
de 2,5 mil nomes da lista. O chamamento, feito pela Codhab por telefone e
por e-mail, era para a montagem de dossiês. Para isso, é preciso apresentar as
nove certidões cartorárias negativas de imóvel e documentos necessários para
fazer o cadastro único (CadÚnico).
O Itapoã está com obras “quase começando”, como diz a diretora. Ainda
não há contratação com agente financeiro, mas todas as outras etapas de
licenciamento e autorização estariam superadas. Não há previsão concreta do
início da atuação no campo de obras.
Saiba mais
A Codhab informa que todas as certidões cartorárias são indispensáveis
no momento da contemplação. Assim, moradores que buscaram a documentação não
seriam lesadas no futuro, apenas teriam adiantado o processo.
Parte do terreno destinado ao Setor Habitacional Crixá é ocupada
ilegalmente. Segundo a pasta, as 1.360 unidades contratadas não correm risco. A
área seria para a última etapa, que ainda não tem perspectiva de mobilização.
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