Imagens áreas comprovam que ano eleitoral estimula a atuação de grileiros no DF
Fotos de satélite mostram o aumento de invasões no Morro da Cruz, em São Sebastião, no segundo semestre de 2014
(foto: Terracap/Divulgação |
Em 2014,
durante a campanha eleitoral, houve crescimento das invasões de terras públicas
do DF. O boom é atestado por imagens aéreas das áreas visadas. Autoridades
preparam ofensiva para evitar uma nova onda de crimes
No Parque Nacional, o verde dá lugar ao cinza do concreto, dos piquetes
e do cerrado desmatado. Na região do Morro da Cruz, em São Sebastião, os
barracos se multiplicam, a despeito das frequentes operações de derrubadas. Os
grileiros também agem livremente na Ponte Alta do Gama, onde negociam frações
irregulares de chácaras. Essas três áreas estão entre as mais visadas pelos
criminosos que faturam com o parcelamento ilegal do solo no Distrito Federal.
Para as autoridades, as regiões são prioridade, especialmente às vésperas da
disputa eleitoral — época em que, tradicionalmente, os grileiros agem com ainda
mais ousadia e liberdade.
Um exemplo disso é a expansão das construções em
2014, entre a eleição e o início do atual governo. Houve um boom de grilagem,
como indicam imagens aéreas. Naquele
ano, 104 pessoas foram presas por parcelamento irregular de terras e houve 173
ocorrências policiais. De janeiro a maio de 2018, a Delegacia Especial do Meio
Ambiente (Dema) prendeu 25 grileiros e abriu 102 ocorrências para investigar a
atuação de criminosos que lucram com a exploração de terras públicas e
particulares.
Os anos eleitorais são vistos como oportunidades
para os grileiros. Muitos apostam que as autoridades não vão tomar medidas
impopulares, como derrubadas de casas, e se apressam em desmatar novas áreas
para habitação. Ciente dessa prática, a Agência de Fiscalização garante que não
vai afrouxar o controle, apesar da campanha eleitoral. A diretora adjunta da
Agefis, Ana Cláudia Borges, diz que o cronograma de operações está mantido e
deve ser até intensificado. “De julho de 2014 até o início de 2015, houve um
agravamento dos casos de grilagem, as pessoas se aproveitaram do período
eleitoral. Mas, agora, não vamos reduzir a intensidade dos trabalhos, pelo
contrário, nosso foco é não deixar que esse problema se repita”, afirma a
diretora adjunta.
Segundo Ana Cláudia, as operações são realizadas em
todas as regiões do Distrito Federal, especialmente naquelas mais visadas pelos
grileiros. “As pessoas arriscam e apostam muito nesse período de campanha, mas
vai ser grande a frustração, a ordem é não parar. As operações continuam”,
acrescenta. A Agefis realiza, em média, quatro operações por dia. “A maioria é
fruto do nosso próprio trabalho de monitoramento, mas também atuamos com base
em denúncias e em imagens de drone, além de vistorias”, conta Ana Cláudia
Borges.
No Assentamento 26 de Setembro, foram quase 800 novas construções, somente na época do último pleito eleitoral
(foto: Terracap/Divulgação) |
Este ano, a Agência de Fiscalização já realizou 116
operações. Em 2017, haviam sido 503. O foco dos fiscais é identificar as
construções e derrubá-las antes que haja moradores. Quando as casas estão
habitadas, as operações são muito mais complicadas e, frequentemente, a Justiça
concede liminares impedindo as demolições. “Se não conseguimos derrubar
imediatamente, apreendemos o material de construção”, conta a diretora adjunta
da Agefis.
Entre a campanha eleitoral de 2014 e o início de
2015, segundo levantamento realizado no início da atual gestão, 10 novas
ocupações surgiram ou cresceram rapidamente, entre elas, uma na DF-280, outras
em São Sebastião, Sobradinho e Ceilândia. As ocupações na região do
Assentamento 26 de Setembro estão entre as mais preocupantes, por conta da
fragilidade ambiental do parcelamento, que fica na Floresta Nacional de
Brasília (Flona) e é vizinho ao Parque Nacional de Brasília. O assentamento foi
criado em 1996, para abrigar trabalhadores rurais. Há 15 anos, a Justiça
determinou a remoção de invasores, mas, com o crescimento rápido dos
condomínios no local, a recuperação completa da área tornou-se impossível.
Hoje, as autoridades atuam para que as ocupações não saiam do controle, o que
poderia comprometer ainda mais o abastecimento de água na capital.
Prisões
Na semana passada, a Polícia Civil prendeu um
servidor do GDF e mais oito pessoas acusadas de grilagem na área do 26 de
Setembro. Na Operação Herdade, os agentes da Delegacia de Meio Ambiente
flagraram um auditor-fiscal tributário da Secretaria de Fazenda do Distrito
Federal em atuação, acusado de invadir uma área avaliada em R$ 30 milhões.
Para a delegada-chefe da Dema, Marilisa Gomes, a mobilização
contra a grilagem deve evitar “o caos” registrado em 2014, durante e após o
período eleitoral. “No fim de 2014, houve uma situação muito grave. Atualmente,
o quadro está mais controlado mas, infelizmente, a grilagem parece ser algo
intrínseco ao Distrito Federal, graças a outros governos que fecharam os olhos
e até estimularam. As invasões afetam o meio ambiente de maneira drástica”,
comenta a delegada.
Sobre o Assentamento 26 de Setembro, uma área
visada, Marilisa lembra que a região conta com bacias hidrográficas que
garantem o abastecimento da cidade. “A área está na APA do Descoberto. O
parcelamento irregular afeta de maneira drástica o problema da água. É um crime
muito sério”, acrescenta.
A delegada conta que o uso de documentos falsos ainda
é uma das principais táticas dos criminosos. “Eles compram áreas de chacareiros
e colocam em nome de laranjas. A partir daí, começam a vender os lotes para
várias pessoas”, explica Marilisa.
O presidente da Terracap, Júlio César Reis, conta
que a aposta das autoridades agora é a tecnologia no combate à grilagem. “Temos
uma ferramenta de detecção de mudanças, que compara imagens de satélite com
diferença de 15 dias e identifica novas construções. A tecnologia é hoje uma
das grandes aliadas para evitar novos parcelamentos irregulares”, conta Júlio.
NÚMEROS
116
Total de operações realizadas pela Agefis em 2018
6,8 milhões
Total de metros quadrados derrubados este ano
25
Número de grileiros presos pela Dema este ano
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