Do pó aos bilhões
Série de reportagens revela como se deu a ocupação do solo, o mais valioso bem da cinquentenária capital do país. O DF tem hoje um terço de seu território em situação irregular, fruto de uma história de grilagem e descaso, onde políticos e empresários fizeram fortuna
Vista aérea do Plano Piloto em construção |
No começo era tudo cerrado. Do cerrado se fez pó. Da terra
vermelha, brotou uma cidade, a esperança, o poder e a riqueza. A capacidade de
trabalho e a organização fizeram do sonho a casa de alvenaria dos candangos no
Planalto Central. Mas como os redemoinhos de vento que remexiam a terra no sidos
de 1960, a desorganização se imiscuiu aos valores da criação e também deixou
sua marca. Se em três anos e oito meses os pioneiros foram capazes de erguer a
capital da República, em cinco décadas o Distrito Federal tornou-se símbolo da
desordem fundiária, com sequelas tão ou mais impregnadas que a história de quatro
séculos de grandes metrópoles brasileiras foi capaz de produzir.
Ask the dust é um clássico da literatura beat da década de
1930. Traduzido para o português, significa Pergunte ao pó. O título cabe
perfeitamente em uma reflexão sobre Brasília e suas particularidades. No DF, o
solo é resposta para tudo. Perguntar à terra é certeza de descobrir o passado
de idealizações, o presente de conflitos e o futuro de incertezas. Para
entender no que se tornou a cidade criada por Juscelino Kubitschek, planejada
por Lucio Costa e transformada em monumento por Oscar Niemeyer, é preciso
voltar no tempo. E questionar as reviravoltas da terra, exumar histórias,
revisitar personagens, investigar mapas desbotados, agitar documentos
amarelados, vasculhar cartórios.
A história sobre as terras do DF começa em 1822, ainda nos
primeiros anos do Império, quando o estadista José Bonifácio de Andrada e Silva
propôs interiorizar a capital do Brasil e sugeriu os nomes de Petrópole, em
homenagem ao imperador Pedro I, ou Brasília. Em 1892, foi constituída a
comissão Cruls, que veio desbravar a área onde quase sete décadas depois seria
inaugurada a nova capital. Começa em 1955, com as desapropriações das fazendas
goianas que integram o polígono do DF, a confusão que responde por sete cidades
inteiras sem escrituras, 513 loteamentos clandestinos, além da destruição de
áreas de preservação ambiental tomadas pela ocupação ilegal.
A decisão de transformar 5.802km² de glebas pertencentes a
fazendeiros dos municípios de Luziânia, Planaltina e Formosa no quadrilátero da
capital criou litígios que resistem há quase 60 anos. Essa é a moldura que
enquadra um cenário matematicamente absurdo para os dias de hoje. Na capital da
República, que deveria ser uma referência nacional, um terço da população mora
na ilegalidade. “Impressionante uma cidade planejada e com só 52 anos ter uma
proporção tão grande de suas terras em situação irregular, enquanto outros
municípios, como o Rio de Janeiro, com quatro séculos de existência, não têm
uma situação tão grave”, diz o presidente da Companhia de Planejamento do DF
(Codeplan), JúlioMiragaya.
Fortunas em hectares.
O Correio inicia hoje uma série de reportagens sobre a
ocupação do Distrito Federal, seus desdobramentos, dificuldades e tentativas de
deslindes. Na capital do país, a terra é o bem mais valioso, é pó que vale
ouro. As grandes fortunas se avolumaram em hectares. Não há um milionário
candango que não tenha uma história estreita com o solo. Mas o quadradinho também
é minado por crônicas de desilusões. De acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), está dentro dos limites do DF a segunda maior
favela do Brasil em termos de população. Sol Nascente tem hoje 65mil
habitantes, atrás apenas da Rocinha, no Rio.
Divulgada em novembro de 2012, a Pesquisa Distrital por
Amostra de Domicílios do Distrito Federal, realizada pela Codeplan, revela que
pelo menos 158.179 residências foram construídas em território irregular. Além
dessas, outras 166.541 famílias também não têm a escritura definitiva de seus
imóveis. Enquanto milhares de pessoas esperam por um documento de propriedade,
está nas mãos de um só homem a posse de 12 mil hectares, área onde caberiam
juntos Ceilândia, Taguatinga, Samambaia, Recanto das Emas e Riacho Fundo. O
ex-senador cassado e condenado pela Justiça a mais de 30 anos de prisão Luiz
Estevão é o dono de um latifúndio que vai se tornar o celeiro de novos bairros
e até cidades do DF. Ele é o exemplo de uma geração de milionários que levantaram
suas fortunas durante a fase de desenvolvimento de Brasília.
Como Luiz Estevão, há incorporadores que ganharam dinheiro
apostando na valorização das projeções. Paulo Octávio é um deles. Filho de um
dentista, cresceu na classe média, mas chegou à maturidade como um dos homens mais
ricos de Brasília. “No Rio de Janeiro, eles têm o petróleo. Nós temos a terra”,
compara o empresário, dono de uma construtora imobiliária, shoppings e
propriedades nos quatro cantos do DF e que agora já expande seus negócios para
o Entorno da capital.
Política
Nem só riquezas a terra produziu em Brasília. Adubou o
caminho para políticos que se fizeram com as promessas de moradia. A primeira
eleição direta de Brasília em 1989, alçou ao poder Joaquim Roriz, quatro vezes
governador do DF, tendo como principal trunfo a terra. A história dele e de sua
família é um capítulo à parte na ocupação e montagem da capital. A trajetória
de sucesso de alguns fez crescer o olho de outros. Há uma turma que conseguiu
mandatos seguindo a trilha da habitação, da regularização, da doação de lotes.
Gente como o senador Gim Argello, os ex-distritais José Edmar, Pedro Passos e Batista
das Cooperativas, além do atual secretário de Habitação, Geraldo Magela.
A questão fundiária também provocou terremotos que abalaram
os Três Poderes. Não foram poucos os escândalos motivados pela disputa por
territórios. No ano de inauguração da Câmara Legislativa, 1991, uma CPI foi
instalada para investigar o mau uso da terra. Apontou que áreas arrendadas pela
Fundação Zoobotânica eram entregues para funcionários da própria empresa ou
parentes de políticos. Daí para os condomínios ilegais foi um passo.
Quatro anos depois, em 1995, os deputados distritais fizeram
a mais contundente investigação sobre os parcelamentos irregulares do DF, a CPI
da Grilagem. Nas crises envolvendo terras, um distrital passou 30 dias atrás
das grades e outro teve a prisão decretada em plena campanha eleitoral, o que
não lhe podou a vitória nas urnas. Um desembargador perdeu a condição de
magistrado no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios por suposto
envolvimento com grilagem de lotes na área mais nobre da capital federal, o
Lago Sul. Um dos maiores escândalos do DF, a Operação Caixa de Pandora prova
que é possível contar os 52 anos de Brasília costurando os episódios que se
referem ao solo.Uma das principais suspeitas é de que 19 dos 24 deputados
distritais da legislatura passada receberam propina para aprovar o mais
importante instrumento de organização do espaço, o Plano Diretor de Ordenamento
Territorial (Pdot).
Com milhares de processos envolvendo as disputas pela terra,
o TJDFT precisou criar um braço especializado no tema, a Vara de Meio Ambiente,
Desenvolvimento Urbano e Fundiário. Pelas mãos do juiz Carlos Divino Rodrigues
tramitam ações que envolvem interesses bilionários e a solução para problemas
sociais da qual dependem, pelo menos, 800 mil pessoas. Todos os processos dando
conta do imbróglio das terras da capital. “O Estado no DF não tem o controle
sobre a sua superfície”, resume Carlos Divino. O magistrado é o representante
de uma força em direção à legalidade. Mas enquanto se busca uma solução para
regularizar o passado, o Código Penal indica que o crime compensa. Os grileiros
que construíram os principais condomínios ilegais nunca cumpriram pena na
prisão.
Feito à mão pelo engenheiro Joffre Mozart Parada, o mapa e
setembro de 1958 usado pela Comissão de Desapropriação detalha as fazendas de
Goiás que originaram o DF
|
Dois de outubro de 1956. Às 11h40, o presidente da
República, Juscelino Kubitschek, empossado oito meses antes, pousa a bordo do avião
presidencial em uma pista improvisada na região que três anos depois viraria a
nova capital federal. O objetivo da primeira viagem ao quadrilátero era ver com
os próprios olhos o progresso nas desapropriações das fazendas goianas. A compra
dessas glebas tornou possível a criação de Brasília, porque dela se fez o solo
candango. Mas também é a origem de todos os litígios fundiários do Distrito Federal
que persiste até hoje.
Quase seis décadas após as primeiras negociações, ainda há
volumosos processos judiciais reclamando solução para conflitos sobre a legítima
propriedade dessas áreas rurais, que eram imensos descampados, mas onde
atualmente residem 2,8 milhões de pessoas. Para se ter uma noção da
complexidade dos problemas, a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), que
detém as terras públicas do Distrito Federal, é parte em 3,5 mil ações sobre
questões fundiárias que tramitam na
Justiça. A primeira transação imobiliária que envolve o endereço do Palácio do
Planalto, da Alvorada, o Congresso Nacional, todo o Plano Piloto e o coração de
Brasília foi negociada com Jorge Peles, um comerciante que tinha um documento
precário de direito sobre a terra: um compromisso de compra e venda lavrado no
1º Ofício de Luziânia.
Começa aqui o entrelaçamento de personagens centrais na
história das terras candangas. Peles é
pai de Weslian Roriz, sogro de Joaquim Domingos Roriz, governador do DF por
quatro mandatos e que, para o bem ou para o mal, fez das questões fundiárias o
seu legado.
Precariedade
O Correio teve acesso a um documento histórico intitulado
Primórdios de Brasília, no qual o homem destacado para comandar as
desapropriações em Goiás, o médico e pecuarista Altamiro de Moura Pacheco,
relata em 95 páginas os detalhes das transações que coordenou para a formação
do DF. Ele tinha uma procuração do governador de Goiás, José Ludovico,
dando-lhe amplos poderes para negociar e comprar as fazendas.
Eram 108 propriedades rurais pertencentes a 154 fazendeiros do
território onde seria fincada a cidade idealizada por Juscelino. O relatório dá
notícia de parte das dificuldades das desapropriações, como documentos
precários, e a existência de 3.829 alqueires geométricos de terras devolutas,
ou seja, aquelas áreas em que os donos não foram localizados.
Para entender a dificuldade do trabalho, é preciso levar em
conta que as terras no meio do Planalto Central valiam pouco na época, muita
gente não registrava seus bens em cartórios e, mesmo quando a titularidade era
oficializada, os termos eram genéricos, muitas vezes sem informações precisas,
dando conta apenas dos nomes, sem endereços ou números de identificação, com
erros grosseiros de grafia. As inscrições das propriedades também eram
imprecisas, com coordenadas marcadas a partir da casa de vizinhos, de
cupinzeiros, nascentes de córregos, morros, solos acidentados, enfim,
referências que se perdiam com o tempo.
Na matrícula da Fazenda Papuda, por exemplo, onde hoje é o
bairro Jardim Botânico, a descrição começava assim: “Do fundo dos quintais das
casas da Fazenda Papuda, pela estrada que vem para esta cidade, à cabeceira do
açude mais próximo às ditas casas…” Já a Fazenda Buriti ou Tição, no sudoeste
do DF, é localizada “pelo norte com terras de Pedro Cardoso Romeiro; pelo
poente do veio d’agua acima do Rio Descoberto até a Capella de Santo Antônio…” Próximas
a Buriti, estão Giboia e Lage, ambas com erros de grafia nos documentos, o que
dificulta a identificação.
A Fazenda Taboquinha inicia “na cabeceira da vertente do
meio, onde se encontra cravado um mourão de concreto…”; e a Santa Bárbara, hoje
região de Santa Maria, “começa no marco que está cravado no eixo da estrada
Santa Angela, com as terras da mesma fazenda.” Esses são apenas alguns exemplos
da complexidade de localização das áreas.
Além disso, havia contratos de gaveta e os espólios eram
divididos entre famílias numerosas, com muitos herdeiros. Assim, na hora de
comprar a terra, a Comissão de Desapropriação não teve condições em tempo
recorde dado por JK para a construção de Brasília de localizar todos os que tinham
direito de propriedade.
Para complicar ainda mais a situação, a valorização das
terras atraiu criminosos, que se aproveitaram das brechas para falsificar
documentos de propriedade, inventar herdeiros e deslocar títulos de
propriedade. “Um dos grandes problemas é que as desapropriações ocorreram e
muitas transações não foram averbadas nos cartórios de origem”, explica a
procuradora geral de Justiça do DF, Eunice Amorim Carvalhido, que atuou em
vários processos relacionados a terras nas promotorias de Meio Ambiente e
Defesa do Patrimônio Público. A duplicidade de informações foi o gancho para a atuação
de muitos grileiros.
Um dos condomínios mais valorizados do DF, o Villages
Alvorada, ao lado da Ermida Dom Bosco, de frente para o Palácio da Alvorada, é
um exemplo. Existe um conflito sobre se a terra é particular ou pública. Uma
escritura de um cartório de Goiás aponta um proprietário privado. Mas essa área
está registrada no DF como sendo de propriedade da Terracap. O processo está na
Justiça e os moradores aguardam o deslinde para a regularização do condomínio.
Separados sob o mesmo teto
Situação vivida há oito anos por Valdomiro Leite e Dionira
Mota é um retrato da bagunça fundiária do DF. Após quatro décadas, os dois se divorciaram
e não se falam mais. Mesmo assim, precisam morar no imóvel do qual nunca
conseguiram ser os donos oficiais no Paranoá
Valdomiro de Almeida Leite, 77 anos, foi casado por quatro
décadas, mas hoje o som que lhedistrai a solidão é o de um acordeão. A mulher
com quem dividiu alegrias e tristezas, saúde e doença, por metade de sua vida
está a uma escada de distância. Ele mora no térreo. Ela, no primeiro andar de
uma casa no Paranoá. Apesar de vizinhos, os dois não se falam há oito anos.
Estão separados. Dividir o sobrado não foi uma opção, mas se tornou o maior
exemplo da situação fundiária irregular que ocorre em um terço da capital do
Brasil. O caso de Paranoá é uma das mais contundentes fotografias da disputa
pela titularidade das terras que teve origem nas desapropriações de Brasília e
até hoje persiste. “Se pudesse, teria refeito a minha vida longe daqui”, desabafa
Dionira Nunes da Mota, 72 anos. Mas, nesse caso, mudar de endereço é mais
difícil que romper um compromisso de quatro décadas, 13 filhos, 14 netos e uma
geração de bisnetos.
Separados, mais que isso, brigados, os dois vivem debaixo do
mesmo teto porque não têm a escritura de propriedade do imóvel, fundamental
para dividir o patrimônio na separação. Valdomiro e Dionira dispõem apenas de
uma certidão positiva, um documento precário, o mesmo emitido pela
Administração Regional para todas as 11.760 residências do Paranoá. Eles
viveram a maior parte de suas vidas na fazenda, no interior de Minas Gerais.
Valdomiro foi lavrador, sem intimidade com as letras. Ela sempre foi dona de
casa. Assim como o casamento de papel passado, quando o amor acabou fizeram
questão de certidão para comprovar a separação.
Conseguiram legalizar a condição civil, mas em 23 anos de residência no Paranoá
nunca tiveram o título de donos da casa que construíram com as próprias mãos.
“O que está no papel não tem volta”, diz Dionira a respeito da separação.
A situação do casal que se separou sem sair do mesmo teto
ilustra a absurda situação de informalidade do Paranoá. Região a 15 minutos do
Palácio da Alvorada, onde mora a presidente Dilma Rousseff, incrustada em meio
às mansões e casas dos bairros mais nobres da capital, os lagos Sul e Norte, a
região administrativa foi criada na área de conflito fundiário mais complexa do
Distrito Federal. A cidade está dentro da Fazenda Paranoá, que passou por um
processo de desapropriação em comum — quando o Estado paga por uma parte da
terra sem delimitar o quinhão de cada um, incluindo proprietários particulares.
Imbróglio
A desapropriação em comum funciona como se irmãos herdassem
um apartamento no espólio deixado pelos pais. Não há como saber qual cômodo
pertence a cada um. Em situações como essa, o mais corriqueiro é a venda do imóvel
para dividir igualmente o valor. Quando se trata de uma gleba que envolve
interesses particulares e públicos, a solução não é tão simples. Imagine fazer
esse tipo de divisão quando a escala é em hectare, envolvendo centenas de herdeiros,
sobre uma análise de negócios fechados há 60 anos, quando as circunstâncias
eram outras e o valor da propriedade, absolutamente distinto dos preços atuais.
É esse o pano de fundo das brigas judiciais pela titularidade das áreas de desapropriação
em comum.
Segundo dados da Companhia Imobiliária de Brasília
(Terracap), 11% dos 5.802km² que integram todo o território do DF estão nessa
situação. São 638,22km² quadrados de pura confusão. No caso específico do
Paranoá, há uma disputa por 1.371 hectares de uma área que pertence ao espólio
de Sebastião de Souza e Silva e da mulher dele, Carolina de Sousa e Silva. Ele
teve 16 filhos, dos quais apenas dois estão vivos. Entre os herdeiros, há
dezenas de netos e bisnetos que brigam entre si e com a Terracap para a divisão
da propriedade. E há ainda um agravante. Alguns descendentes venderam sua parte
para especuladores imobiliários, terceiros que hoje também reivindicam seus
direitos.
Um dos nós se deve ao não reconhecimento de um dos
herdeiros, Vitorino Bevinhati, que era casado com Sebastiana de Sousa
Bevinhati, filha de Sebastião. O quinhão do casal foi registrado em nome do
marido, como era costume nos anos de 1920. Os demais herdeiros não reconhecem o
direito dele. Eles não tiveram filhos, mas no processo de tentativa de grilagem
de parte das terras da Fazenda Paranoá, apareceu até a Certidão de Nascimento
falsa de um filho que os Bevinhati nunca tiveram. Na época do inventário de Sebastião,
o preço da terra era outro. “É importante lembrar que as fazendas negociadas
estavam no interior do país. Um boi ou até um espelho valiam frações da
fazenda”, explica o chefe da Procuradoria Jurídica da Terracap, Sérgio
Nogueira.
O processo da Fazenda Paranoá é um dos 221 considerados
estratégicos pela empresa pública. Depende dessa ação resolver a situação de
clandestinidade de 42.427 pessoas que, segundo a Pdad de 2011, moram na região
cercada de condomínios de classe média e média alta. O Paranoá nasceu da
transferência de uma invasão de famílias que ajudaram na construção da barragem
que deu origem ao Lago Paranoá. Está fincada em terreno fértil, plano, com uma
vista privilegiada, de clima mais ameno e com facilidade de acesso ao Plano
Piloto pela Ponte JK. Mas, enquanto não houver uma solução jurídica, a cidade
terá de conviver com aberrações como o fato de o governo não ter autorização
para construir equipamentos públicos, como postos de saúde, escolas técnicas e
até campo de futebol. “Tivemos de negociar com representantes das famílias”,
conta Cezar Lopes, administrador do Paranoá.
Juiz dá posse à Terracap
Em novembro, o juiz da Vara de Meio Ambiente,
Desenvolvimento Urbano e Fundiário do DF, Carlos Divino Rodrigues, determinou a
desocupação de uma área de 55 hectares dentro da Fazenda Paranoá e a reintegração
de posse para a Terracap. Os herdeiros de Sebastião de Sousa e Silva reclamam a
posse da terra alegando que a gleba foi comprada em 1924. A Terracap apresentou
registro de que o imóvel teria sido, na verdade, adquirido pelo Estado de Goiás
em 1956, durante processo de desapropriação dos Bevinhati. Depois, a gleba foi
repassada à União, que transferiu a propriedade à Terracap. Na sentença, Carlos
Divino sustenta que esse entendimento abre perspectivas para a “regularização
fundiária das cidades do Paranoá, Itapoã e adjacências”. Se esse raciocínio do
juiz prevalecer, Dionira e Valdomiro poderão finalmente ser verdadeiros donos
do sobrado onde moram. Terão de decidir se realmente querem viver em casas
separadas.
Via: Correio Braziliense
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